A Cidade do Rio de Janeiro é
mundialmente conhecida como uma das mais belas do mundo. A combinação de mar,
montanhas, florestas e cidade constitui uma paisagem única dentre as grandes metrópoles
mundiais. Tais características justificaram seu reconhecimento pela UNESCO, em
2012, como Paisagem Cultural Patrimônio da Humanidade.
Mas, não são apenas os cartões
postais de rara beleza que possuem valor ambiental nesta cidade onde natureza e
áreas urbanas se misturam. Remanescentes florestais localizados longe dos
pontos turísticos também são valiosos e devem ter sua existência e proteção
asseguradas.
Esse é o caso da Floresta do Camboatá, na Zona Oeste, às
margens da Avenida Brasil, de propriedade do Exército Brasileiro. São aproximadamente
200 hectares, dos quais 114 cobertos por áreas naturais e regeneradas,
representativa das Florestas Ombrófilas de Terras Baixas. Este tipo de
vegetação é uma das mais ameaçadas dentre as formações florestais que compõem a
Mata Atlântica. Justamente por se localizar nas áreas mais baixas e planas, foram
as primeiras a serem dizimadas, primeiramente para uso agrícola e depois para a
expansão das cidades. A Floresta do
Camboatá abriga o último remanescente carioca deste tipo de vegetação.
Sua importância ecológica está
registrada nas pesquisas realizadas pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Desde o início das pesquisas, já foram catalogadas 125 espécies diferentes da
flora nativa, sendo 77 espécies arbóreas, numa densidade de mais de 1000
árvores por hectare. Ipês, angicos, ingás, cambarás, quaresmeiras e jacarandás,
este último ameaçado de extinção, são algumas das espécies encontradas. Dezenas
de espécies de animais utilizam a área como abrigo ou, no caso das aves, como
área de pouso nos seus deslocamentos entre os maciços florestais da Cidade. A Floresta do Camboatá possui também dezenas
de nascentes e pequenas lagoas, nas quais já foram identificados peixes e
anfíbios ainda pouco estudados.
A relevância ambiental e
ecológica desta área é atestada também por diversos documentos de planejamento
da Cidade. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável indica a área
como ‘Sítio de Relevante Interesse Ambiental e Paisagístico’, especialmente pela
sua função de conector ecológico entre os três grandes maciços florestais da Cidade
(Gericinó-Mendanha, Pedra Branca e Tijuca). O Plano Municipal de Conservação e Recuperação
da Mata Atlântica recomenda que todas as áreas de Floresta Ombrófila de Terras Baixas,
como é o caso da Floresta do Camboatá,
sejam declaradas como unidades de conservação. O Conselho Municipal de Meio
Ambiente aprovou deliberação recomendando a criação do Parque Natural Municipal
do Camboatá.
No entanto, contrariando estas
informações e recomendações técnicas e ignorando o valioso patrimônio natural existente
na Floresta do Camboatá, a Prefeitura
do Rio de Janeiro está encaminhando, de maneira açodada, uma proposta de
parceria público-privada para a construção de um autódromo no local. Estimativas
preliminares indicam que pelo menos 100 mil árvores seriam derrubadas, caso
esta proposta vá adiante. A expectativa que está sendo gerada pela ação da
prefeitura, seja entre os investidores e automobilistas interessados, seja na
população local, é temerária, posto que a legislação ambiental determina que
sejam feitos estudos de impacto ambiental previamente à concessão de qualquer licença
para construções no local. Não temos dúvidas que tais estudos chegarão à
conclusão de que a construção de um autódromo é incompatível com a vocação da
área!
A proteção da Floresta do Camboatá é essencial tanto
pelo seu valor ecológico quanto pela sua importância para o lazer e bem-estar
dos moradores da região. Empreendimentos que tragam oportunidades de trabalho e
renda também são necessários. Um autódromo de padrão internacional pode sim ser
esta oportunidade. No entanto, não é admissível que um equipamento com esta
relevância e visibilidade tenha como resultado a destruição de um patrimônio
natural valiosíssimo. A criação do Parque Natural Municipal do Camboatá nas
áreas de floresta e a implantação do Pólo Verde de Deodoro, com equipamentos e
atividades de uso múltiplo nas áreas abertas – tais como uma incubadora de inovações
em sustentabilidade, centros de treinamento em jardinagem, produção orgânica, reciclagem
e empreendedorismo socioambiental – é a melhor destinação para esta área.
Há nos arredores da Floresta do Camboatá outras áreas,
também de propriedade da União, claramente mais adequadas à construção do
autódromo. Se considerarmos outras regiões da Cidade, há pelo menos outras quatro
áreas, todas já mapeadas por técnicos da Prefeitura, que são muito mais adequadas
a este propósito. Não é preciso destruir uma floresta única e eliminar toda a
fauna existente no local para termos novamente um autódromo!
O discurso adotado pela
Prefeitura, de que seu projeto é de um autódromo-parque, com a preservação da
floresta, não convence. As ilustrações divulgadas junto com o projeto comprovam
a necessidade de desmatar quase por completo a Floresta do Camboatá. Além disso, os exemplos de autódromos
instalados em áreas de floresta ao redor do mundo, citados como modelos, já
foram ou estão em vias de serem desativados, justamente pelos impactos sobre a flora
e a fauna que foram observados.
Não é necessário e nem adequado
que a Cidade reconhecida como Patrimônio Mundial sacrifique uma área de alto
valor ambiental e social para instalar um autódromo. A vocação da Floresta do Camboatá é a proteção e
pesquisa ambiental, o lazer e a educação em contato direto com a natureza, além
da provisão de serviços ambientais para a sociedade. O que não faltam são alternativas
locacionais para o autódromo carioca.
Junte-se a nós nesta luta!
DESMATAMENTO NÃO!
Pela preservação da Floresta do Camboatá.
Que o autódromo seja em
outro lugar!
Estou na luta pela manifestação da Floresta! Já comentei acima. Além de responsabilizar população e governo (nas três esferas), vamos responsabilizar a empresa - Fórmula 1 - se aceitar que seja ali.
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